Saindo do abuso
Tem uma história que quero compartilhar É a história de uma mulher que conseguiu enxergar Como da dinâmica do abuso não conseguia se libertar E por isso é tão importante contar Que no dia em que entendeu ‘como’ a criança ferida fazia a conexão Com o homem que encaixava nessa fricção de sempre criar a desilusão Teve força de lutar a boa luta da compreensão O que ela viu é que tinham duas mulheres em seu peito Uma menina imatura que mendiga amor e respeito Ela tinha uma meta de ter a segurança do homem amado Mas de ter a qualquer custo mesmo se o preço fosse dobrado Para essa metade o valor estava em como era apreciada E para isso foi treinada a ficar apagada e calada Dizer sim pra tudo e ainda se sentir culpada Receber atenção era a meta a ser alcançada Esse homem também era por sua criança afetado Se sentia valorizado quando era disputado Criava cenas de ciúmes e traição para chamar atenção Terminava fazendo juras com muita paixão Para a menina imatura essa era a felicidade pura: “Quase o perdi mas no fim fui a escolhida e sou a prometida E assim sigo sendo a sua preferida” E assim se dobra o ciclo do amor imaturo Onde a dor é parte fundamental do jogo obscuro De quem joga pra ganhar e quer receber sem dar E somente ao próprio umbigo olhar Mas quando a dor irrompe a outra mulher do peito Aquela que é adulta se pergunta: como é que eu aceito? Como fico aqui a chorar somente para ter esse homem de par? Para a parte da mulher madura nada disso faz sentido ou cura Mas um dia ela se perguntou: mereço de fato receber amor? Nesse dia chegou a compreensão que amor maduro faz outra conexão Porque quem ama sabe dar amor e por justiça pode receber sem dor Mas não era tão simples assim sair do jogo da dor sem fim Porque dentro dela estava a menina ao pé do homem agarrada Precisava ser consolada da dor das perdas da infância E ver de perto a sua real insegurança Essa menina tem medo da vida e da solidão Racionaliza os sentimentos e sempre acha que tem razão Ao buscar ser amada o faz com compulsão Exige muito do outro e depois faz acusação Eita menina danada, por ignorância é traiçoeira Encontra outra criança ferida e fica fazendo a besteira De envolver um assunto tão sério na sua brincadeira De ferir e ser ferida uma vida inteira A dor a ser chorada é a dor da infância Sustentar a verdade é de maior importância A infância não volta mais, não vamos mais insistir A dor do agora é outra, já não vale mais confundir Vamos curar a carência faminta dessa criança ferida Para libertar a mulher que quer ser feliz e bem sucedida Ter um homem ao seu lado que tem a possibilidade De saber dar afeto e calor e de viver na verdade Na luta sem consciência a mulher se embrutece Fica frágil, sem auto-estima e depois se empobrece De si mesma se esquece e amargurada envelhece A luta com consciência difere em peso e habilidade Olho pra dentro e encontro o buraco da hostilidade Identifico que é dor e medo de rejeição Também tem muitas imagens e fantasias sobre solidão Já não sou tão impotente, nesse barco tomo o leme Recrio a direção em que navega meu coração Vou para o continente do amor maduro sem medo de arriscar O homem que tem tamanho pode vir me acompanhar Tem duas em meu peito, isso eu posso afirmar Uma não vai sumir ou a outra assassinar A integração acontece quando isso eu sustentar Que a ferida da alma sou eu quem pode curar Texto: Andrea Quirino de Luca
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Comprometida 💕
Quero estar comprometida Com a minha força interna Aprender sobre amar Sair de minha caverna Vou expor meu coração Para isso precisa cuidado Aprender reorientar o prazer Correr o risco adequado Desejar com todo querer Amar quem seja sábio Saber escutar e expressar Sentimento enjaulado Já não era sem tempo Conhecer amor maduro Ser leal ao firmamento Do despertar desse mundo Mundo interno que descoberta Minha bonita sensibilidade Me forjo no ferro e no fogo De minha vulnerabilidade Quem tiver coragem, venha E permaneça nessa estrada Honestidade é ouro E firmeza é necessária Assim declaro essa oração Que preza pelo poder De fazer a construção Que eleva o nosso ser Expressando a imensidão Do nosso universo interno Numa doce conexão Dissolvo todo meu ego Andrea Quirino de Luca Uma prosa sobre o abuso
Eu tenho uma boa mãe, minha história começa assim Eu tenho uma mãe boa mas tem algo que não ensinou pra mim Isso começou há muito tempo, as mulheres dizendo sim E o curso do abuso continua seguindo assim Muitos homens de meu sistema foram também Barba Azul Meu pai, meu avô e até o bisavô Tanta dor já se passou, mas fez a curva e voltou Fica se repetindo até um dia chegar Uma mulher capaz de sentir tudo e gritar Ver de perto esse abuso e assim decidir se curar Quero ensinar as netas, quero ensinar as bisnetas Para isso preciso aprender Enxergar e reconhecer A barba azul deixar de temer Minha mãe foi boa mas não me pôde ensinar A dizer não ao abuso e depois desviar O que aprendi com ela foi justamente o contrário Miro no abusador e ali me instalo Minhas amigas, de mana pra mana, vou te contar esse caso Com o coração sangrando, muitos anos vivi nesse atraso Atraso de ir para a vida e construir relação de amor Fiquei ao lado do homem que faz o jogo da dor O homem que mente e trai e com a maior cara lavada Por A + B me faz entender que eu sou a culpada O homem desleal e machista que trai, engana e inventa Depois espalha a notícia que eu sou a ciumenta As outras mulheres envolvidas precisam ser mais sabidas Sororidade acontece ao olharmos as nossas feridas Feridas do feminino que suporta peso e angústia Depois duvida de si, não vê o quanto isso custa Custa tua dignidade, custa minha dignidade Quando ficamos por medo Nem sempre medo de apanhar mas medo dele nos abandonar A dor da solidão deve se abrandar Com muitas manas espertas aprendendo a nos apoiar O mais importante nesse ensejo, com toda força e respeito É aprender e se amar Amor não é mendicância, precisamos valorizar Cada lágrima que caiu nesse imenso pesar Vamos nos levantar, sentir o poder feminino De dizer não ao abuso na cura de nosso íntimo Sim para tudo que foi, eu reconheço a verdade O abuso acaba aqui, eu aprendo essa lição Honro todas as mulheres que não enxergaram opção Carrego sua força dentro de meu coração Andrea Quirino de Luca |
AutorAndrea Quirino de Luca, via Saber Sistêmico. Archives
Fevereiro 2019
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